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8 de março: dia internacional da mulher. Qual mulher?


Ilustração: Pipa Azul

Não é difícil perceber, que, durante todos esses anos, o dia internacional da mulher é comemorado com muita alegria e, muitas vezes, em forma de resistência, fazem protestos de pautas que representam as causas de muitas mulheres. Mas é um dia que não me representa.

Na terça-feira (1), estive presente em um evento que abordava o filme ‘As Sufragistas’ e logo após um debate seria realizado. Desde o início, estava ciente que a pauta sobre mulheres negras não seria abordada, pois a maioria no anfiteatro da universidade eram de mulheres brancas – assim como no filme. Quando o debate se iniciou, me incomodei com um discurso que generalizava todas as mulheres, discurso esse, que dava a entender que todas sofrem das mesmas causas. Estavam colocando todas as mulheres dentro de um mesmo patamar: “todas sofremos igualmente”.

Esse discurso me fez pensar em todas as pautas das mulheres negras e sei, através da minha vivência, que não sofremos das mesmas dores que as mulheres brancas. Assim como no filme, é visível que nós, mulheres negras, não fizemos parte de muitas causas e conquistas que mulheres brancas realizaram. Nós fomos sempre excluídas da sociedade, sociedade essa em que as mulheres brancas estavam inseridas. Enquanto as sufragistas estavam lutando pelo direito de voto, as mulheres negras apenas queriam ser reconhecidas como pessoas normais. Queriam elas, o básico que as mulheres brancas já tinham, e que não era muito. Então, uma dúvida se apresenta: 8 de março realmente representa todas as mulheres?

O acontecimento de 8 de março, não representa as mulheres negras, pela forma que o reconhecimento das mulheres na sociedade naquela época caminhava. As mulheres brancas – apesar de suas dores – tinham privilégios que as negras não possuíam, privilégios esses, que estão arraigados até hoje na nossa sociedade. É importante lembrar que a mulher negra não estava inserida na mão de obra do trabalho das fábricas naqueles tempos como a mulher branca. As negras já estavam saindo de suas casas para trabalhar antes mesmo das mulheres brancas terem esse direito.

É uma história que foi – e ainda é -, ignorada pela sociedade, pois a luta da mulher negra é contínua e pouco se sabe sobre ela. Temos na história, grandes mulheres negras que são símbolos para o movimento feminista negro, mas que não são contempladas assim como as embaixadoras do feminismo – branco – que tanto se sabe falar.

Não é uma questão de separar mulheres negras e mulheres brancas, pois, de fato, somos todas mulheres. A questão é: reconhecer as causas umas das outras, em suas necessidades e especificidades. Por isso, o feminismo negro é de extrema importância, pois mulheres negras não estão tão presentes em coletivos feministas de mulheres - brancas, pelo fato de, simplesmente, não estarmos no mesmo espaço que elas, espaço esse que só foi conquistado, recentemente. Nós não nos sentimos representadas por esse movimento.

Levantar a bandeira de que nós somos mulheres, que somos iguais, é muito fácil para aquelas que mesmo sendo mulheres, usufruíram por toda a vida os privilégios por serem brancas, as mulheres negras não. Fazer com que entendam a causa das mulheres negras é uma luta a ser travada. Elas precisam entender e incorporar no movimento que existem especificidades que ainda não são contempladas, pelo simples fato de elas não terem passado pelas mesmas vivências que nós passamos.

É importante definir que a luta das mulheres em geral, ainda não representam as mulheres negras. É importante saber que as mulheres negras lutam por causas diferentes, têm pautas diferentes. É necessário que o movimento feminista saiba que as mulheres negras precisam do espaço de fala e que uma vertente para as negras seja valorizada e lembrada. É importante entender que a mulher negra, por muito tempo não foi vista e ouvida pela sociedade e por isso, que digo: 8 de março não foi feito para mulheres negras, 8 de março não nos representa.


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